quinta-feira, 26 de abril de 2012

Sobre uma popozuda





No pensamento da sociedade ocidental, o sexo é tabu faz séculos. Vale lembrar que a scientia sexualis nos ensinou, em uma pedagogia bastante eficaz, que falar de sexo era proibido, visando assegurar um vigor físico e uma pureza moral, e isso para a mulher se instaurou de maneira muito mais marcante ainda no século XIX. E esse “tabu”, esse entrave em relação à livre falácia sobre os prazeres sexuais foi construído culturalmente, bem como tudo que envolve produção de sentido em um dado estrato social.

Sabe aquele dado de que "a história é contada pelos que venceram"? Pois é, poderíamos dizer que a "alta cultura" venceu, e junto com ela diversos preceitos morais advindos do projeto de modernidade, que ainda povoam, e muito, o juízo de valor feito pelo senso comum? A arte criou ares e lugares de distinção, discriminação.

Juntando a proibição de se falar de sexo (o que data do seculo XIX), à opressão que a mulher viveu durante muito tempo em relação ao seu corpo e sua própria sexualidade e a cultura da periferia, vemos um massacre “culturocêntrico” que parece não precisar de argumento algum para fazer sentido, simplesmente é feio falar de sexo explicitamente e que isso corromperá profundamente nossos filhos. Sexo? Corromper? Ah, claro, o grande problema é a promiscuidade.
E aí, os pais se perguntam, que será dessa geração que tem tudo tão explicito, tão solto, tão líquido e fugaz? Não seria um correlato meio torto da geração que aprendeu que a masturbação era doença e falar de sexo era proibido? A grande questão é que, também foi essa construção histórica que nos ensinou que existia o público e o privado, e alguns assuntos não deveriam ser tratados assim, à vista de todos, para isso existiam os lugares adequados. No entanto, hoje, as fronteiras estão borradas entre essas duas instâncias, mas o julgamento continua o mesmo.
O sexo? Fazemos, falamos (com grande dificuldade), no entanto não podemos ousar colocá-lo em um lugar de produção de sentido e conformador da cultura, aí ele é categorizado como perversão. E a liberdade de expressão esbarra no sexo, numa realidade onde ofender e bradar aos quatro ventos o seu preconceito contra homossexuais e negros é defendido por muitos como “direito de livre expressão”, contraditoriamente falar de sexo explicitamente é motivo de “pouca vergonha” e, claro, se for mulher, é puta e não se dá valor. No entanto, todos esses lugares comuns que insistem em manter a mulher como um ser inócuo e manter o assunto sexo entre quatro paredes (ou dentro de um consultório médico, assim como no século XIX), não se renovam para compreender que o movimento de empoderamento do corpo (e toda a problematização que esse conceito traz) é um dado muito mais complexo que uma moral pré estabelecida possa explicar e definir.




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